segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Run with the hunted

Antes que a minha editora me processe por divulgar material ainda não publicado, trago um último poema do Buk, de uma deliciosa auto-ironia, que estará presente nesta coletânea somente com textos autobiográficos chamada Run With the Hunted (ainda sem título em português) a sair pela LP&M.

o dia em que mandei meu pé de meia pro espaço

e, eu disse, você pode pegar seus tios e tias ricos
e avós e pais
e todo o petróleo fétido deles
e seus sete lagos
e todos os seus perus
e búfalos
e o estado inteiro do Texas,
quer dizer, seus espantalhos
e suas caminhadas de sábado à noite no calçadão,
e sua biblioteca de 50 centavos
e seus vereadores corruptos
e seus artistas aveadados —
pode pegar tudo isso
e seu jornal semanal
e seus famosos tornados,
e suas nojentas enchentes
e todos os seus gatos miantes
e sua assinatura da Time,
e enfiar no rabo, baby,
bem no meio do rabo.

posso voltar a manusear uma picareta e um machado (acho)
e posso arranjar
25 pratas por uma luta de 4 assaltos (talvez);
claro, estou com 38
mas um pouco de tintura pode esconder os fios
grisalhos do meu cabelo;
e ainda posso escrever um poema (às vezes),
não se esqueça disso, e mesmo que
não rendam nada,
é melhor do que esperar por mortes e petróleo,
e dar tiros em perus selvagens,
e esperar que o mundo
comece a girar.

tudo bem, vagabundo, ela disse,
dê o fora.

o que? eu disse

dê o fora. você teve seu
último acesso de fúria.
cansei dos seus acessos de fúria:
você sempre atua como um
personagem de uma peça de O’Neill.

mas eu sou diferente, baby,
não consigo
evitar.

você é diferente, essa é boa!
Nossa, quanta diferença!
não bata
a porta
quando sair.

mas, baby, eu amo o seu
dinheiro!

você nunca me disse
que me ama!

o que você quer afinal
um mentiroso ou um
amante?

de você não quero nada! se manda, vagabundo,
se manda!

... mas baby!

volta lá pro seu O’Neill!

fui até a porta,
fechei-a com cuidado e me afastei,
pensando: tudo o que elas querem
é um índio de madeira
que diga sim e não
e fique parado junto ao fogo e
não faça muito barulho;
mas acontece que você já não é mais
uma criança, rapaz;
da próxima vez jogue visando
o pé de
meia.

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