Para aqueles que gostam de minicontos, sem entrar em debates sobre sua validade como gênero, ou a picaretagem que se tornou sua produção nos últimos anos, uma pequena preciosidade trazida para vocês por este seu tradutor cossaco.
Instantâneo, Harvey Cedars: 1948 — de Paul Lisicky Minha mãe toca a testa, mergulhando seus olhos verdes na sombra. Sua boca é rosa, seu cabelo loiro como trigo. Ela está bronzeada. É a mulher mais atraente em toda praia, ainda que nunca poderá reconhecê-lo. Ela envolve seu corpo comprido num sarong com padrões marinhos e ondula, acredita que seus quadris são um sino. Mesmo agora ela segue contando, esperando que o obturador da câmera se feche.
O braço de meu pai lhe enverga os ombros. Ele é um tipo musculoso, a barriga lisa como uma chapa. Ele olha para o horizonte, fingindo estar com minha mãe, mas já está na Flórida, desenvolvendo novas cidades, aterrando pântanos com areia. Ele se enxerga construindo sem parar. Ele terá boa saúde. Terá a fortuna ao seu lado. E daqui muitos anos, depois que seus companheiros de Exército tiverem se tornado balofos e efeminados, todo o seu trabalho duro valerá a pena: as pessoas lembrarão de seu nome.
Seus ombros se encostam: a pose diz: essa é a aparência que deve ter um casal de jovens — veja, não somos nós os escolhidos? Mas a cabeça da minha mãe está inclinada. Para o quê ela está olhando? Será um olhar de soslaio para o tenista que se banha na ducha externa, o de mãos suaves, aquele que lhe ensinará a desaprender as coisas? Ou será que ela já pode escutar o disparo da arma que meu pai pressionará contra a têmpora, vinte anos depois?
Nenhum comentário:
Postar um comentário